
* AlgunS Concha y Toro Sunrise Carmenere.
* As 200 crônicas escolhidas do Rubem Braga.
* Uma rede com cheiro de preguiça com o homem pelo qual você é mais apaixonada.
Quem em sã consciência precisa pedir mais alguma coisa, hein?
Todos os domingos parecem possuir o peso e a essência da saudade. E por isso ela sempre reserva esse dia para que sua alma acorde preguiçosa e tenta iludí-la na esperança de que ‘vai passar, tu sabes que vai passar’. Faz isso para que ela não sinta [mais] dor. E então faz todas [ou quase todas] as suas vontades: a presenteia com um vestido florido, um vento fresco, um sol morninho, uma sombra gostosa, uma rede preguiçosa e um livro companheiro. Mas a danada da alma reclama. Aperta ainda mais o peito exigindo espaço, como se ocupar todos os meus espaços fosse o paleativo pra preencher aquela falta que só cessa com presença.
E quase como desaforo recebe a mensagem:
“Você não imagina o quão difícil está sendo ficar longe de você.”
Ah, eu sei sim, seu moço, se sei!
Ele entra no ônibus que leva do embarque ao avião. Fica bem na minha frente. Me olha. Te olho.
E o que acontece?
Não, ele não senta do meu lado.
Uma moça, pouco mais idade que eu, babá, ia descer em Petrolina. Já conformada porque tudo comigo acontece ao contrário sempre mesmo, ligo meu mp3, e já me encolho naquela poltrona mini mas que miraculosamente eu consigo me acomodar, e me preparo pras 5 horas de vôo.
Passa um tempo, sinto um carinho suave no meu braço, aquilo me aperta o peito e me sai um sorriso sacana. É ELE. Que seja ELE. Era ele.
A mão dele vinha da poltrona 11 A, eu na 10 A, uma mão sorrateira entre a poltrona e a janela acariciava meu braço. Coloco ou não coloco a ponta dos meus dedos? E agora? E se ele me achar fácil? Ah, você nunca mais verá esse cara sua retardada, é só um carinho, vai...
Facilito a mão. Ponta dos dedos, as mãos dele se animam e se aninham. Dedos, mãos, braços, nuca, nessa ordem.
A mão dele já passava por minha nuca e nenhuma palavra. A mão nos meus lábios, e nenhuma palavra. Os dedos dentro da minha boca, e nenhuma palavra. A mão dele no meu colo e nenhuma palavra. Também não precisava. Nossos corpos se entendiam. O tesão vinha e eu o prendia roçando as coxas. O avião chega em Salvador. Ele me escreve um bilhete com seu telefone e pede o meu.
Droga, droga, droga, esqueci o meu número! De novo, pqp! Eu sou retardada! Ah, mas era pra ser só isso mesmo, afinal, eu só deixei os dedos dele passarem entre meus lábios porque nunca nos veremos mesmo..
Mais um bilhete:
Tentei negar, juro. Afinal, eu só deixei os dedos dele passarem entre meus lábios porque nunca nos veremos mesmo.
E eu respondo que não dá, o piloto mandou permanecermos sentados nos nossos lugares (dooooida pra ir) mas na escola do cudocismo, temos que dizer não três vezes.
Ele fala baixinho alguma coisa engraçada e charmosa, e eu vou. Sento do seu lado e vejo um tal livro meio que auto ajuda, mas que ele jurou não ser. Gabriela, se ferrou, vai ter que ir pelo menos até Recife com esse cara maluco.
15 minutos de conversa e conheço um cara lindo, cheiroso, fascinante e que me agarra num beijo tão gostoso, que me desculpem o trocadilho infame: me deixou nas nuvens.
E nessa de “afinal, eu só deixei os dedos dele passarem entre meus lábios porque nunca nos veremos mesmo” que hoje faz 1 mês que esse cara entrou na minha vida, e hoje rezo para que não saia nunca mais. Afinal, eu só deixei os dedos dele passarem entre meus lábios, não tinha autorizado ele tocar a minha alma e me fazer romper com o mundo e queimar os meus navios.
Imagine um cara bonito. Pronto? Agora imagine um cara bonito, cheiroso, charmoso e que se veste super bem. Agora coloque uns olhos verdes, um cabelo liso, grisalho, uma pele branca, bem branca, ou melhor, imagine o cara mais lindo que você já viu nu na vida, (falo com as meninas, claro).
Imagine agora um cara seguro, inteligente, decidido, engraçado, culto, maduro, protetor, que te faz rir, que te declama poesia gaudéria (Não sabe o que é isso? Ele me ensinou, é poesia gaucha.) Ele também me ensinou sobre carros antigos, motores de 8 cilindros e que cusco é cachorro. Ele agora está querendo me ensinar a ser otimista e que amor de filme existe.
Imagine um cara que, assim como você, fica fácil em uma livraria o dia inteiro e ainda te sugere livros, te explica coisas e devora tudo que vem de você.
Imagine um cara que gosta de música erudita, de Chico Buarque e do Belchior, que escuta tuas histórias e conta as dele, que fica te olhando com cara de bobo enquanto você lê a aba de um livro e te aperta em seguida dizendo que você é a única mulher do mundo que é inteligente-bonita-gostosa-e-criativa. Um cara que aprendeu a falar palavrão contigo e que te ensinou a falar dêfêrêntê!
Imagine ficar horas deitados numa cama confortável, conversando baixinho no escuro, fazendo segredo pro mundo, mesmo que só exista você e ele alí, disputando quem está mais feliz. E a gente aprendeu isso, e achou gostoso. E ficamos assim, no meio do shopping, dentro dos táxis, nos bares, nos restaurantes, na fila da farmácia, dentro do elevador, falando o quanto é bom, confortável e seguro estarmos juntos.
Imagine acordar no meio da noite e ver a mão dele pousada na sua cintura e você ouvir daquele jeito baixinho, ainda fazendo segredo pro mundo, no quarto escuro: Eu amo você, tá?
Dá vontade de sair do quarto e bater no dos outros e dizer: - Ei, deixa eu te dizer, ele me ama, tá? Dá vontade de ligar naquela hora pro ex-namorado e dizer com toda sinceridade do mundo e sem um pingo de ironia: - Cara, MUITO OBRIGADA, de tudo que você me deu, o melhor foi aquele pé na bunda!
Não deu pra imaginar um cara assim, né? É, eu sei. Nem eu imaginava. Eu só tinha pedido um amor. Veio o homem da minha vida junto.
Tenho pensado tanto em você, meu amado blog. Ando relapsa, não é?
Mas venho te dizer que não é descaso, tem algo querendo te falar mas eu não sei o que é.
Uma pressa, uma urgência, sabe?
E o mais foda é que minha vida não tem passado de um monte de “quase”.
Estou quase conseguindo um emprego.
Estou quase conseguindo o corpo que sempre quis.
Estou quase na metade do curso.
Estou quase conseguindo me fazer de burra, cega e idiota.
Logo, estou quase conseguindo recomeçar a me amar.