segunda-feira, 31 de março de 2008

Sobre as buscas e as fugas.


E ela vivia procurando por ele em todas as avenidas, ruas e lugares. Ruborizava ao passar por carros iguais ao dele, não julgava a sua míopia e perseguia os homens com o seu arquétipo. Era assim no início.
Hoje ela reza e implora fervorosamente a todos os santos que nunca acreditou, que não permitam que cruze com ele, que ele não apareça de repente, ou passe com sua nova namorada. Suplica para que não receba mais um golpe baixo.
Não tem frustração, ódio ou mágoa.
É só decepção branda.
Hoje, pouco importa que ele tenha sido hipócrita e execrável, pois como fracasso, ele foi maravilhoso...

domingo, 30 de março de 2008

Feliz Aniversário, holandês.


O amarelo comestível de Van Gogh


Ontem encontrei com Van Gogh, estávamos num desses cabarés franceses conversando e saboreando a melodia de Chopin. Ao som de Nocturne Op.9 nº 2, viajei pelos trigais buscando desesperadamente o segredo dos tons amarelados. Os corvos estão partindo,indício de que a melodia está acabando e meu tempo também. O desespero toma conta de mim quando percebo que não degustei a tonalidade amarelada.

- Vou-me suicidar! Pensei.

Aponto a arma para a minha cabeça mas o tiro saiu pela culatra e quando percebo, vejo meu amigo holandês ali caído, morto!Lá se vai Van Gogh e com ele o segredo do amarelo comestível.


Lucho Gonzalez

sexta-feira, 28 de março de 2008

Sobre o que completa.


São esses pedaços que a vida me arranca que me fazem inteira.

E que não deixam de doer, mas aí já é outra história.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Das conversas que não precisam de respostas.




- Deixa eu cuidar de você?
- Você sabe que eu não sou fácil de lidar, não sabe?
- Por isso mesmo, deixa eu cuidar de você?
- E se eu sofrer?
- E se você me amar?
- E se eu te amar e sofrer depois?

- Porque não arriscar?

terça-feira, 25 de março de 2008

Algumas poucas observ[ações]


Cheguei de viagem, uma viagem que realmente foi um divisor de águas na minha vida.
Talvez more em Ribeirão Preto. Talvez só passe seis meses lá. Talvez eu nem volte. Mas já tenho a porta aberta, mesmo que isso me pareça a porta de um abismo.
Estive sozinha e não me reconheci de tão bonita. O mundo é bom. As pessoas aparecem na sua vida, e por mais que você fique, a vida te mostra que pelo menos ela continua.
Eu tinha um medo fodido de perder, perder você, a lucidez, a coerência, medo fodido de perder os olhos encantados no mundo, mas eis que hoje me vi livre-escrota-sacana-bacaninha, pois aprendi que não preciso temer mais nada depois que te perdi.
E eu estou me achando ainda mais foda-competente-escrota-gostosa-atraente-sortuda-pra-caralho.
Tem uma vida muito massa me esperando e eu não estava dando conta.
Não vou dizer que passei incólume.
Você é e sempre será uma ferida aberta no peito, e por mais que eu mude, sorria, viva e até ame, você estará lá debaixo das minhas roupas como uma ferida boa que não sangra.
Uma daquelas feridas que nos ensinam.

Quanto mais sozinha me sinto nessa cidade grande, fria e tão cheia de possibilidades, mais distante coloco aqueles que eu amo. Os distancio pra me aproximar de mim. São oito e pouca da noite, os olhos marejados de lágrimas e eu ainda tenho a noite inteira pela frente me engolindo.

Hoje tenho limites para me doar, e não ultrapassar. E isso me causa uma sensação estranha, esse negócio de re-encantamento de mim está sendo muito difícil, porém prazeroso, pois me sinto mais certa de que se a tal pessoa aparecer e que se não for dessa vez, eu não vou morrer. Não existe apenas A pessoa. Sei o que vai acontecer comigo, isso já aconteceu antes. Mas agora eu tenho experiência.

Estou sozinha sentada num café, tudo tão chique e blasé aqui. Alguns caras tentam se aproximar (não sabia o quanto uma mulher que lê Henry Miller ouriçam os homens aqui nessa cidade). E então agradecida dos cafés-drinques-sucos oferecidos, disfarçadamente comecei a chorar. Troquei os óculos de grau e pus o meu ray-ban escuro. E foda-se que já era noite. Eu estou em São Paulo, eu tenho o direito de ser esquisita também. Ninguém me conhece nessa porra e esses imbecis só estão sendo agradáveis porque perceberam que eu sou turista-baiana-e-bonita e então acham que me comem fácil.
E exarcebada de infelicidade subi a avenida que me levava ao alojamento desse dia que foi extremamente proveitoso, embora tenha parecido eterno e que me transbordou de afogamentos.

Ah! como eu precisava tanto de alguém que me salvasse do pecado de querer abrir o gás.
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Ouvindo: My funny valentine - Chet Baker por Simona Parrinello.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Das descobertas.

A viagem não é apenas um deslocamento, mas a profundidade do horizonte.

terça-feira, 18 de março de 2008

Dos sebos da vida.


Trópico de Câncer - Henry Miller: R$ 4,00.

A brincadeira - Milan Kundera: R$ 8,00

O pensamento de Jung: R$ 4,00

O lobo da estepe - Hermann Hesse: R$ 13,00

Ana karenina 2 volumes - Tolstói: R$14,00

TOTAL: R$ 43,00


Sim, é só pra vocês ficarem com inveja.

domingo, 16 de março de 2008

Sobre as viagens.


Arrumei todos os meus papéis. Rasguei e destruí muito, sem piedade. Isso é sempre uma grande satisfação. Sempre que preparo uma viagem, eu o faço como se estivesse indo para a morte. Se eu não voltar, tudo estará em ordem. Foi isso o que a vida me ensinou.


Katherine Mansfield.



E é assim que eu arrumo as minhas malas.
Volto Domingo.
Espero.

quinta-feira, 13 de março de 2008


Dorme logo dor minha.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Sobre as discrepâncias.


- Tudo bem, eu sei o quanto é difícil você me ver, pois é a mesma coisa que sinto quando não te vejo.

sábado, 8 de março de 2008

Sobre o receio.


Ando morrendo de medo de tudo que prometa durar para sempre.

terça-feira, 4 de março de 2008

Sobre como aquele dia terminou (Ou sobre como tudo ficou)


Ninguém vai sambar na minha caveira e vocês estão de prova. Eu não sou mulher pra macho chegar e usar como quer e depois dizer tchau deixando poeira na cama desmanchada. Mulher de malandro, comigo não. Não sou das que suspiram com a submissão. Eu sou de arrancar força guardada cá dentro, toda força do meu peito para fazer forte o homem que me ama. Assim quando ele me levar pra cama, eu sei que quem me leva é um homem feito. E foi assim que fiz Jasão um dia. Agora não sei. (Entrada de Joana - Gota D'água)

Eu o amava pra caralho. Muito. Muito mesmo. E era um amor sacana. Amor visceral. Só não sabia que não havia mais completude.
Tá, até sabia, mas não sabia que a diferença era tamanha.
Ainda sentia frio na barriga quando olhava para a fotografia dele e suspirava com os únicos 5 bilhetes escritos que ganhei.
Eu o amava pra caralho.
Ele não.
Ele não se amava.

E foi num dia qualquer, comum, uma segunda-feira, início de semana, o fim de um ciclo. Entrei no carro e vi o meu filme que eu queria que ele tivesse assistido comigo.
- Mas o que isso está fazendo aqui?
- Eu assisti e não gostei.

E o filme sussurrava pra mim: Estou voltando pra casa.
Mas não dei ouvidos. Tenho o excelente dom de me fazer cega e surda para não me machucar. Rodamos um pouco na cidade e paramos no local onde guardava o segredo das nossas trepadas furtivas do ínicio de namoro. Não, não era um motel, era uma rua.
Uma conversa que me doía inteira, que me pegou covardemente desprevenida, humilhadamente pisada, injustiçadamente acusada.
Minha amiga me liga.

- Ei, cadê você?
- Não posso falar agora, posso te ligar mais tarde?.
- Tá chorando?
- É, depois eu falo, tchau.

Bati assim, na cara dela, quando a vontade era de bater na cara dele.
Como ele ousa não me amar?
Como ele ousa dizer aquilo tudo e posar de mártir?
Porra, eu sou sacadinha-descolada-moderninha-cult-engraçada-e-gostosa.
Quem ele pensa que é?
Como vou me permitir ser amiga de um namorado sem o medo que ele me enxergue como irmãzinha? Qual a dosagem certa para dividir uma pizza de pijama e ser comida feito puta depois? Como vou saber se ele quer uma namorada, uma amiga ou uma mãe? Como vou conseguir de novo relaxar e ser eu? Porque ninguém me responde?
E ninguém respondeu.
E então eu chorei até ficar submersa nas lembranças dele.
Gritei todo o ar que já nem tinha.
E se alguém consegue nomear o que é fundo do poço. Foi lá que eu estive. Mas não sei porque, não me permiti ficar.


E com seis quilos a menos que representava toda a nossa felicidade de disputar o balde de sorvete de chocolate enquanto assistíamos filme abraçadinhos, afirmo que nunca mais ninguém vai me fazer chorar assim. E temo que nunca mais me permita também amar assim.
Temo que ninguém mais me arranque lágrimas.
Eu juro que tentei. Mas agora que eu sei que todo mundo pode me decepcionar...
Então isso nem chega a machucar.

Não me permito, nem que seja pra perder novamente seis quilos, pôr aquele biquini e ser paquerada pelo cara sentado com a mulher que o ama, mas que não acordou, que se eu der mole, ela toma um pé na bunda dele.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Sobre os presentes.


Gabriela sabia como agradar a um homem. Ela parecia tratar cada homem com quem falava como se fosse o único. Esse era seu maior e mais duradouro encanto. Nunca ninguém fizera antes ele sentir-se tão espirituoso. Gabriela olhava direto nos olhos, ria intuitivamente mesmo das piadas que não entendia, parecia sempre interessada na conversa. E tinha o que se poderia definir como um certo ar sexual permanente. Você punha os olhos nela e imediatamente tinha pensamentos sexuais. Gabriela parecia sexual num velório, num corredor de hospital ou numa cadeira de dentista.


Daqueles presentes que a gente ganha, fica encabulada, mas que no fundo nos deixa toda prosa.

sábado, 1 de março de 2008

Dos encontros de sábados a noite.


Gabi diz:
É pra levar poesia?
Androgynus . www.deadtwins.blogspot.com diz:
Leve!
Androgynus . www.deadtwins.blogspot.com diz:
Não vá sem qualquer tipo de poesia.
Androgynus . www.deadtwins.blogspot.com diz:
Cole a poesia no corpo.
Androgynus . www.deadtwins.blogspot.com diz:
Na cabeça.
Androgynus . www.deadtwins.blogspot.com diz:
Vista-se de poesia.



Amarantine diz:
Eu quero dançar tango hoje.
Amarantine diz:
Me acompanha?
Amarantine diz:
Levarei uma flor vemelha.
Gabi diz:
Oui, ma cherrie.




Meu sábado promete?
O Sarau promete!
A vida promete.

E cumpre, meus amigos. E cumpre.

Hoje tem vinho nas mãos,
Poesia nos braços,
E amigos no gargalo.