quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sobre os absurdos ou [De como eu estou assustada com isso tudo]


Lembro você entrar, o seu terno impecável e alterno meu olhar entre você, o meu livro e o nosso silêncio. Acho que vai dar tudo certo. Já fico preparada, e nada. Vem você me tratando super bem. É, você tem que estragar tudo me tratando bem desde a primeira vez.

Por favor, não ouse mais dizer que eu sou linda até parada escovando os dentes, nem demonstrar ser responsável, maduro e gostar de cachorros. E pode acabar com essa sua mania insuportável de me atender sempre que eu ligo, de deixar de sair pra jantar só pra ficar falando comigo. Está muito fácil você me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.
Pode parar de dizer que mesmo depois de um dia inteiro de trabalho, que eu sou super cheirosa, e que ficar fazendo carinho na minha mão, feito nosso primeiro contato já basta.

E que faz questão de conhecer minha mãe. Minha irmã. Que quer pedir minha mão. Pare de dizer que quer viajar comigo um final de semana, que quer ir ao concerto comigo, ao cinema, e que sem mim, não tem graça. E que está tudo bem se eu só quero ficar quietinha do seu lado, calada, só lendo.

Mas acho que ele é meio burro, pois mesmo tento toda a artilharia do mundo pra foder a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. É, acredite, olha a merda: ele-quer-me-fazer-feliz! O bendito quer me tirar a coisa que lutei tanto pra me acostumar, e hoje, quase irmãs, ele quer me afastar da dor. Meses de adaptação e aperfeiçoamento, e o tal moço quer me fazer feliz estragando tudo, vê se pode...

Eu, cética, te testo. Passa uma mulher super gostosa, te mostro, você diz que o meu nariz é lindo! Ah, vai se foder! Não vem, não. Acho que vou passar uns seis meses sem dar pra você, daí ou você continua me mimando, ou faz o que todos devem fazer: me mandar pastar.

Com tanto potencial para me dar um mega pé na bunda, e esse moço deu pra largar as planilhas e ficar conversando comigo sobre como me acha culta e que adora fazer carinho na minha mão, como na primeira vez.

Não teve conversa, foi assim, eu lembro, sua mão na minha.

Você deveria ser preso, isso sim! E o pior, é que criaturas como você vicia, é um perigo. Eu acordo e me acho o último passatempo da via-láctea. Me vejo suuuper gostosa, suuuper gata, dei até pra achar que mereço mesmo ser mimada, bajulada e bem tratada. Você está criando um monstro, eu já avisei.

Anos me fazendo de cega tentando sobreviver numa coisa morta, e este ser chega com esses olhos verdes que são as coisas mais charmosas do mundo, e acha que já pode vir chegando me fazendo feliz, vê se pode. Até cantando Dora Linda no meio da rua e sorrindo por vizinho eu estou.

Dia desses quase que eu consegui que ele me tratasse mal, fui grossa, não atendi ao telefone. Provoquei, vai meu filho, xinga, brigue, seja um escroto. Preste atenção no jogo bem quando eu estiver falando de todos os meus traumas, fale de outra mulher, mas não. Você só ficou bravo uma vez e foi de brincadeirinha, logo veio você me mimando e dizendo que eu sou a coisa mais linda e charmosa do mundo. Você está criando um monstro, eu estou avisando.
Vou conversar com minha mãe, ela precisa me proibir mais, me trancar, ter um homem desses é um perigo.

O homem está perto sempre que eu preciso, tem a péssima mania de sempre me colocar pro lado de dentro da calçada pra proteger, e ainda tem o pior defeito da humanidade: Esqueceu a ex namorada. Depois de uma relação com 300 fantasmas do passado de braços dados comigo, aparece um ser em que eu sou o único nome que ele lembra de colocar na boca.

Diz aí se não é escrotagem e das grandes pro meu lado? Como é que choraminga numa situação dessas? Como chamar Deus de escroto? O destino de sacana? Minha pele está ótima, durmo feito criança, acordo assoviando!

Isso é perigoso, é dessa ofegância que o amor nasce. É de você me dizer: “Vem pra cá, vamos fazer algo que nos dê tanta saudade que nos fará rir sozinhos enquanto tomamos banho”.

São dessas coisas que nascem um amor. E eu lembro disto sorrindo, passando o sabonete pelo meu corpo.

4 comentários:

On disse...

voltei!!!
eu, roberto carlos e as baleias!!

Vivz disse...

A gente tá tão acostumada a ser mal tratada, que é assim mesmo que a gente fica, qdo encontra alguém que cuida da gente. Aproveite. :)

Three Love´s disse...

uau, rsrsrsrs...
posso copiar esse texto e mostrar prun monte de gente????
é óbvio, digo que é seu (eu jamais escreveria algo assim) e dou o endereço do seu blog...

caramba, amei, é deliciosamente ácido, irônico, poético e romântico;
num mundo tão comum e pobre... é ótimo topar com uma, tão desprentenciosamente linda, original declaração de amor.

b.e.i.j.o.s.

Bárbara Lemos disse...

Você é única, menina.