sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Sobre o nada.


A gente se prometeu, lembra?
Como todos os anos, prometemos que tudo iria ficar bem. Quando viesse chuva miudinha, você me ligaria e o medo de trovão passava. Quando você precisasse de um disco triste para as suas noites, eu te daria todas as melo[dias].
Você com aquela mania de desenhar o mundo com os dedos, lápis imaginário, você prometeu me desenhar alí, mentir um bocado nas minhas formas e me dar uns pedaços de gargalhadas.

A gente se prometeu, lembra?
Tudo, absolutamente tudo seria lindo. Não porque a gente ia fazer ficar bonito, mas porque era, mesmo não sendo. E nos acomodamos no juramento dessa certeza.
Eu era aquela menina que amava só porque achava bonito amar, e você dizia que o amor era uma coisa feia. Você me prometeu amar, eu aprendi a desiludir.
E ia dar tudo tão certo.
Não tinha como errarmos.
Mas você, agora com esses olhos cinza. Castanho-real era tão mais bonito.
O que foi que esquecemos? Onde escondemos o nosso trato?

A gente tinha se prometido, sabe?
E hoje, ter que amanhecer assim, todos os dias te vendo costurar os pulsos, me corta a alma.


E eu que nem tenho mangas compridas que escondam essas tuas/minhas cicatrizes...

2 comentários:

Morganna disse...

as palavras cortaram.

La Maya disse...

Calo.








Você escreve muito bem G. Apesar de todo o peso e toda dor do mundo sob suas costas. Apesar das amargas cicatrizes, visíveis e invisíveis. Ou, justamente, por causa delas.