terça-feira, 4 de março de 2008

Sobre como aquele dia terminou (Ou sobre como tudo ficou)


Ninguém vai sambar na minha caveira e vocês estão de prova. Eu não sou mulher pra macho chegar e usar como quer e depois dizer tchau deixando poeira na cama desmanchada. Mulher de malandro, comigo não. Não sou das que suspiram com a submissão. Eu sou de arrancar força guardada cá dentro, toda força do meu peito para fazer forte o homem que me ama. Assim quando ele me levar pra cama, eu sei que quem me leva é um homem feito. E foi assim que fiz Jasão um dia. Agora não sei. (Entrada de Joana - Gota D'água)

Eu o amava pra caralho. Muito. Muito mesmo. E era um amor sacana. Amor visceral. Só não sabia que não havia mais completude.
Tá, até sabia, mas não sabia que a diferença era tamanha.
Ainda sentia frio na barriga quando olhava para a fotografia dele e suspirava com os únicos 5 bilhetes escritos que ganhei.
Eu o amava pra caralho.
Ele não.
Ele não se amava.

E foi num dia qualquer, comum, uma segunda-feira, início de semana, o fim de um ciclo. Entrei no carro e vi o meu filme que eu queria que ele tivesse assistido comigo.
- Mas o que isso está fazendo aqui?
- Eu assisti e não gostei.

E o filme sussurrava pra mim: Estou voltando pra casa.
Mas não dei ouvidos. Tenho o excelente dom de me fazer cega e surda para não me machucar. Rodamos um pouco na cidade e paramos no local onde guardava o segredo das nossas trepadas furtivas do ínicio de namoro. Não, não era um motel, era uma rua.
Uma conversa que me doía inteira, que me pegou covardemente desprevenida, humilhadamente pisada, injustiçadamente acusada.
Minha amiga me liga.

- Ei, cadê você?
- Não posso falar agora, posso te ligar mais tarde?.
- Tá chorando?
- É, depois eu falo, tchau.

Bati assim, na cara dela, quando a vontade era de bater na cara dele.
Como ele ousa não me amar?
Como ele ousa dizer aquilo tudo e posar de mártir?
Porra, eu sou sacadinha-descolada-moderninha-cult-engraçada-e-gostosa.
Quem ele pensa que é?
Como vou me permitir ser amiga de um namorado sem o medo que ele me enxergue como irmãzinha? Qual a dosagem certa para dividir uma pizza de pijama e ser comida feito puta depois? Como vou saber se ele quer uma namorada, uma amiga ou uma mãe? Como vou conseguir de novo relaxar e ser eu? Porque ninguém me responde?
E ninguém respondeu.
E então eu chorei até ficar submersa nas lembranças dele.
Gritei todo o ar que já nem tinha.
E se alguém consegue nomear o que é fundo do poço. Foi lá que eu estive. Mas não sei porque, não me permiti ficar.


E com seis quilos a menos que representava toda a nossa felicidade de disputar o balde de sorvete de chocolate enquanto assistíamos filme abraçadinhos, afirmo que nunca mais ninguém vai me fazer chorar assim. E temo que nunca mais me permita também amar assim.
Temo que ninguém mais me arranque lágrimas.
Eu juro que tentei. Mas agora que eu sei que todo mundo pode me decepcionar...
Então isso nem chega a machucar.

Não me permito, nem que seja pra perder novamente seis quilos, pôr aquele biquini e ser paquerada pelo cara sentado com a mulher que o ama, mas que não acordou, que se eu der mole, ela toma um pé na bunda dele.

2 comentários:

Edu Guimarães disse...

Um dia desses eu comentei com uma amiga de longe (3 mil km!) sobre os seus textos.

São muito fortes, cada palavra é muito forte, apaixonada, não a paixão de duas pessoas, uma outra paixão, que eu nem conheço. Falei e não falei nada, mas é isso.

É ótimo!

Bárbara Lemos disse...

Senti você daqui...