terça-feira, 25 de março de 2008

Algumas poucas observ[ações]


Cheguei de viagem, uma viagem que realmente foi um divisor de águas na minha vida.
Talvez more em Ribeirão Preto. Talvez só passe seis meses lá. Talvez eu nem volte. Mas já tenho a porta aberta, mesmo que isso me pareça a porta de um abismo.
Estive sozinha e não me reconheci de tão bonita. O mundo é bom. As pessoas aparecem na sua vida, e por mais que você fique, a vida te mostra que pelo menos ela continua.
Eu tinha um medo fodido de perder, perder você, a lucidez, a coerência, medo fodido de perder os olhos encantados no mundo, mas eis que hoje me vi livre-escrota-sacana-bacaninha, pois aprendi que não preciso temer mais nada depois que te perdi.
E eu estou me achando ainda mais foda-competente-escrota-gostosa-atraente-sortuda-pra-caralho.
Tem uma vida muito massa me esperando e eu não estava dando conta.
Não vou dizer que passei incólume.
Você é e sempre será uma ferida aberta no peito, e por mais que eu mude, sorria, viva e até ame, você estará lá debaixo das minhas roupas como uma ferida boa que não sangra.
Uma daquelas feridas que nos ensinam.

Quanto mais sozinha me sinto nessa cidade grande, fria e tão cheia de possibilidades, mais distante coloco aqueles que eu amo. Os distancio pra me aproximar de mim. São oito e pouca da noite, os olhos marejados de lágrimas e eu ainda tenho a noite inteira pela frente me engolindo.

Hoje tenho limites para me doar, e não ultrapassar. E isso me causa uma sensação estranha, esse negócio de re-encantamento de mim está sendo muito difícil, porém prazeroso, pois me sinto mais certa de que se a tal pessoa aparecer e que se não for dessa vez, eu não vou morrer. Não existe apenas A pessoa. Sei o que vai acontecer comigo, isso já aconteceu antes. Mas agora eu tenho experiência.

Estou sozinha sentada num café, tudo tão chique e blasé aqui. Alguns caras tentam se aproximar (não sabia o quanto uma mulher que lê Henry Miller ouriçam os homens aqui nessa cidade). E então agradecida dos cafés-drinques-sucos oferecidos, disfarçadamente comecei a chorar. Troquei os óculos de grau e pus o meu ray-ban escuro. E foda-se que já era noite. Eu estou em São Paulo, eu tenho o direito de ser esquisita também. Ninguém me conhece nessa porra e esses imbecis só estão sendo agradáveis porque perceberam que eu sou turista-baiana-e-bonita e então acham que me comem fácil.
E exarcebada de infelicidade subi a avenida que me levava ao alojamento desse dia que foi extremamente proveitoso, embora tenha parecido eterno e que me transbordou de afogamentos.

Ah! como eu precisava tanto de alguém que me salvasse do pecado de querer abrir o gás.
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Ouvindo: My funny valentine - Chet Baker por Simona Parrinello.

7 comentários:

Gustavo Rios disse...

é disso que falo. é disso que a admiração (e tantas outras) crescem. seus óculos, sua alma e as possibilidades que, muitas vezes,parecem que estão na esquina. mas também parecem longe. a vida não é única. a vida é múltipla. vc é múltipla.

Helder CESAR pinto disse...

São Paulo tem dessas coisas.Um lugar maravilhosamente encantador...depressivamente belo.Entardecer regado a helicópteros no céu,mundo fantasmagórico saído da tela de um cinema fudidamente ¨roliduano¨,São paulo de planos urbanos e excessivamente cheirando a ¨tabaco¨, a mofo. São Paulo gigante que engole a gente...Esses nós que nos sufocam e nos deixam em contra mão são típicos de todas as fases em que tornamos camaleões vívidos a caminho da sabedoria. Façam-se a luz, Façam-se de Gabí esse ser luminoso e apaixonante!!

On disse...

...

Camila disse...

Ah, é, concordo que seja 'depressivamente belo'. São Paulo, São Paulo...

La Maya disse...

Sim, minha linda, a vida, pelo menos, continua.
Mas quem foi que disse que não temos também TODO o direito de continuar? Seja por qual caminho for, seja com quem for. Por mais que as outras pessoas também passem, por mais que um dia a gente mesma passe.
E a gente sabe que vai passar.
Mas vai passar inteiro. Pela vida, através dela. Porque aprendi que tudo soma, e não diminui o que somos.
A cada pessoa que vem, a cada pessoa que vai, maiores ficamos. Muito embora as pessoas pareçam arrancar pedaços da gente: pedaços que não vão cicatrizar nem se regenerar nunca. Mas é impressão, sabe. Engano deles, que pensam que levaram pedaços importantes de nós. Nós crescemos. E estamos aqui, inteiras, plenas, fortes.
E a vida que nos ature!!

Quantas e quantas vezes já quis alguém que me salvasse do gás, da lâmina, da overdose de remédios... mas fui mais forte. Sabe, sou daquelas que pagam, e caro, pra ver no que vai dar tudo isso no fim.

Então quer dizer que mulher lendo Henry Miller ouriça os homens em São Paulo, é? Sabe que vou experimentar?! Hahaha!

E seja qual for sua decisão sobre Ribeirão Preto ou qualquer outro lugar, vá em frente e tome o seu espaço. Torço por você.

Ah, linda essa música!

Beijos



P.S.: E não, não somos sozinhas nesse mundo...!

Anônimo disse...

"E quando seu bem querer dormir, tome conta que ele sonhe em paz. Como alguem que lhe apagasse a luz, vedasse a porta e abrisse o gáz" (bem querer-chico buarque, na voz de bibi ferreira, a gota d'água) por uma leitora que caiu aqui de paraquedas e pode se ver refletida em suas palavras.
andrianiangel@Hotmail.com

Anônimo disse...

"E quando seu bem querer dormir, tome conta que ele sonhe em paz. Como alguem que lhe apagasse a luz, vedasse a porta e abrisse o gáz" (bem querer-chico buarque, na voz de bibi ferreira, a gota d'água) por uma leitora que caiu aqui de paraquedas e pode se ver refletida em suas palavras.
andrianiangel@Hotmail.com