
Cheguei de viagem, uma viagem que realmente foi um divisor de águas na minha vida.
Talvez more em Ribeirão Preto. Talvez só passe seis meses lá. Talvez eu nem volte. Mas já tenho a porta aberta, mesmo que isso me pareça a porta de um abismo.
Estive sozinha e não me reconheci de tão bonita. O mundo é bom. As pessoas aparecem na sua vida, e por mais que você fique, a vida te mostra que pelo menos ela continua.
Eu tinha um medo fodido de perder, perder você, a lucidez, a coerência, medo fodido de perder os olhos encantados no mundo, mas eis que hoje me vi livre-escrota-sacana-bacaninha, pois aprendi que não preciso temer mais nada depois que te perdi.
E eu estou me achando ainda mais foda-competente-escrota-gostosa-atraente-sortuda-pra-caralho.
Tem uma vida muito massa me esperando e eu não estava dando conta.
Não vou dizer que passei incólume.
Você é e sempre será uma ferida aberta no peito, e por mais que eu mude, sorria, viva e até ame, você estará lá debaixo das minhas roupas como uma ferida boa que não sangra.
Uma daquelas feridas que nos ensinam.
Quanto mais sozinha me sinto nessa cidade grande, fria e tão cheia de possibilidades, mais distante coloco aqueles que eu amo. Os distancio pra me aproximar de mim. São oito e pouca da noite, os olhos marejados de lágrimas e eu ainda tenho a noite inteira pela frente me engolindo.
Hoje tenho limites para me doar, e não ultrapassar. E isso me causa uma sensação estranha, esse negócio de re-encantamento de mim está sendo muito difícil, porém prazeroso, pois me sinto mais certa de que se a tal pessoa aparecer e que se não for dessa vez, eu não vou morrer. Não existe apenas A pessoa. Sei o que vai acontecer comigo, isso já aconteceu antes. Mas agora eu tenho experiência.
Estou sozinha sentada num café, tudo tão chique e blasé aqui. Alguns caras tentam se aproximar (não sabia o quanto uma mulher que lê Henry Miller ouriçam os homens aqui nessa cidade). E então agradecida dos cafés-drinques-sucos oferecidos, disfarçadamente comecei a chorar. Troquei os óculos de grau e pus o meu ray-ban escuro. E foda-se que já era noite. Eu estou em São Paulo, eu tenho o direito de ser esquisita também. Ninguém me conhece nessa porra e esses imbecis só estão sendo agradáveis porque perceberam que eu sou turista-baiana-e-bonita e então acham que me comem fácil.
E exarcebada de infelicidade subi a avenida que me levava ao alojamento desse dia que foi extremamente proveitoso, embora tenha parecido eterno e que me transbordou de afogamentos.
Ah! como eu precisava tanto de alguém que me salvasse do pecado de querer abrir o gás.
.
.
.