Ana movia o corpo lento no cais, seguia o sol. Quase um ano se passou e a imagem de Ana seguindo o sol não me saiu da mente. Ana sentou e conversou comigo, disse que também fazia um ano naquele dia que ela havia deixado o Fábio na rodoviária. Ela disse que estava usando uma sandália de tiras de couro com miçangas, ele com uma camisa daquela dos caras de quarenta e poucos anos, listrada, botões, uma camiseta branca por baixo. Ela disse que teve vergonha de apresentá-lo aos amigos, ela tinha 17, ele quarenta e poucos. Disse que tinha feito um ano que sentia ele apertando a mão dela esperando o ônibus, prometeu que iria buscá-la um dia. Todo mundo olhou pois ela lhe roubou um beijo, que pensaram que ele era o tio, quiçá, o pai dela.
E ele a beijou.
Eu-te-amo-guria-um-dia-eu-volto. E então a coitada da Ana acreditou que ele voltaria. Mas claro, ele não voltou. O amor só chegou pra se despedir de Ana. E não pediu nem licença.
Eu suspirei por Ana. Sugeri que ela agradecesse aos céus o afastamento lento e progressivo, pois Fábio ainda mandou uns 2 ou 3 e-mails.
- Ele viajava muito, foi por isso.
Sugeri a Ana que agradecesse a omissão dele tão previsível dos homens, admirei a falta de lucidez de Ana ao firmar o acordo com Fábio: finja que eu não te conheço, você finge que nunca prometeu, e eu sigo inventando caminhos que tropecem com os seus.
Pobre Ana, deveria era a agradecer por não ter seguido nessas de amor.
Pobre Ana.
Ele veterano.
Ela ama-dor.
E Ana esteve hoje na minha mente seguindo o pôr-do-sol, só que havia o contraste, um contraste de interior, que é silencioso, contrastando com todo o exterior, ruidoso.
Mas faltava aquela Ana, e esta lacuna, é tudo.
Um comentário:
É, uma pobre menina. Quem sabe ela aprende, ou começa tudo outra vez.
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