terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Sobre aquela mulher.


(...)Por que todas essas fêmeas falam tanto em amor, pode explicar-me? parece que uma boa foda não basta para elas... querem a alma da gente também". Essa palavra "alma" , que aparece frequentemente nos solilóquios de Van Norden, costumava a princípio ter um efeito engraçado sobre mim. Sempre que ouvia a palavra "alma" sair de seus lábios, ficava histérico: não sei como, parecia uma moeda falsa, particularmente porque era geralmente acompanhada por uma cusparada de suco marron que lhe deixava uma esteira no canto da boca. E como eu nunca hesitava em rir na sua cara, acontecia invariavelmente que quando essa palavrinha saia, Van Nordem fazia uma pausa que desse para que eu estourasse numa risada e depois, como se nada tivesse acontecido recomeçava o seu monólogo, repetindo a palavra cada vez mais frequentemente e cada vez com ênfase mais cariciosa. Era a alma dele que aquelas mulheres estavam tentanto possuir”. mas então, que quer você de uma mulher?", perguntei. ele começa a acariciar o ar com as mãos: seu lábio inferior cai. Parece completamente frustrado.Quando ocasionalmente consegue gaguejar algumas frases estropiadas é com a convicção de que por trás de suas palavras existe esmagadora futilidade: "Gostaria de poder entregar-me a uma mulher", diz impulsivamente. "desejo que ela me tire de mim. Mas para fazê-lo precisa ser melhor do que eu; precisa ter uma mente, não ser apenas uma bunda. Tem que fazer-me acreditar que preciso dela, que tem de ser fiel a mim. Não isso... Mas tem de fazer-me acreditar que preciso dela, que não posso viver sem ela. Encontre-me uma Fêmea assim, quer? Se conseguir eu lhe darei meu emprego. Não me importa então o que me acontecesse; não precisaria de emprego, de amigos, de livros, de nada..."


Henry Miller - Trópico de Cancer

Um comentário:

Vivz disse...

Sensacional!

Kd o rouge?